A frente do Senac Rio, entidade sem fins lucrativos, Orlando Diniz distribuiu "participação nos lucros" à sua turma
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Revista Carta Capital - 24/06/2013
Por Marcelo Auler
A frente do Senac Rio, entidade sem fins lucrativos,
Orlando Diniz distribuiu "participação nos lucros" à sua turma
Quando Orlando Santos Diniz, presidente da Federação do
Comércio do Rio de Janeiro, enreda-se cada vez mais em uma disputa nos
tribunais para se manter no poder. O empresário continua no comando da entidade
por força de uma decisão da Justiça, após ser acusado de desvios no Sesc,
entidade mantida pelos comerciantes. O problema é que as denúncias contra ele
não param de brotar.
A mais recente diz respeito ao pagamento a 221
funcionários do Serviço Nacional do Aprendizado Comercial (Senac), outra
entidade mantida pelo setor, de quase 3 milhões de reais a titulo de reajuste
variável, espécie de participação nos lucros.Há dois hábitos flagrantes nessa
história. Sua mulher, Daniele Paraiso de Andrade, figura entre os beneficiados.
E o Senac é uma instituição sem fins lucrativos (em 2010, registrou, inclusive,
déficit de 23,9 milhões de reais).
Diniz tentou interromper por vias judiciais o trabalho
de uma comissão de inquérito aberta pelo conselho nacional do Senac e a
contratação da auditoria KPMG para uma perícia técnica. A comissão vai analisar
a intervenção pedida pelo conselho fiscal da entidade. A perícia confrontará as
contestações da administração regional às irregularidades citadas em um
relatório interno de auditoria, base do pedido de intervenção. O empresário luta para permanecer no cargo
que ocupa há 16 anos.
A auditoria interna apontou a distribuição dos 2,9
milhões de reais em gratificação em março de 2011. Do total, 984 mil reais
foram embolsados por apenas seis funcionários.
Júlio César Gomes Pedro, diretor regional (295,8 mil);
Daniele Andrade, mulher de Diniz e superintendente de Governança Corporativa
(176 mil); Rodolfo Bernardes Roquette, superintendente de Gente e Gestão (155.5
mil); Eduardo Diniz França Santana, da Gestão Corporativa (154 mil): Vânia
Lúcia de Carvalho, do Marketing (102 mil); e Rosineide Tinoco Bandeira, da
Governança Corporativa (101,6 mil).
A auditoria detectou ainda o patrocínio de eventos
desconectados dos objetivos do Senac, como o Fashion Business e o Fash ion
BusinessTech. As cinco edições custaram 26,5 milhões do reais, “Não há
evidência do retorno financeiro aos cofres da entidade, assim como o incremnto
de matrículas nas áreas envolvidas com o evento", anotaram os auditores.
Na análise das prestações de contas de eventos como a
Brite 2011 e a 18ª Edição do Fashion Business, os técnicos da KPMG também
encontraram irregularidades. Dos 8,5 milhões aplicados pelo Senac, 1,633
milhão, ou 19,2% do total, foram gastos sem notas fiscais. Do restante, 44,6%,
ou 3,061 milhões, tinham notas emitidas em datas diversas do evento, 21% (1,442
milhão) apresentavam notas adulteradas, canceladas ou referentes a outros
eventos e 25,1% (1,7210 milhào) referiam-se ao reembolso de despesas com juros
ou estavam em nome de empresas de fachada, cujo estabelecimento inexiste no
endereço indicado.
Apesar das indicações de irregularidades, Diniz acusou
a comissão de ser
“um instrumento de perseguição política e pessoal” em
ação na 1ª Vara Cível. Em abril, a juíza Adriana Costa dos Santos não atendeu,
porém, ao pedido para interromper a investigação.
Na 40ª Vara, sob a alegação de não ter tido prazo de
licitar a contratação de um assistente técnico para acompanhar a perícia da
KPMG. o empresário tentou a suspensão do trabalho e o bloqueio da comissão,
Defendeu a suspensão da perícia com críticas à investigação da
Controladoria-Geral da União. Segundo ele, a CGU, após ultrapassar “o prazo
razoável necessário a conclusão dos seus trabalhos, vem causando, recentemente,
uma série de transtornos e a inviabilização das atividades rotineiras mais
comezinhas no âmbito da entidade". Por isso, justificou, o Senac” não pode
paralisar novamente suas atividades, ficando à mercê de uma segunda devassa”.
Não convenceu nem o juiz da Vara, Fernando Rosado de Souza, nem o desembargador
André Ribeiro, da 7ª Câmara do Tribunal.
O dirigente se diz perseguido pelo presidente nacional
do Senac, Antônio Oliveira Santos, a quem acusa de adotar “medidas com o claro
escopo de desestabilizar a administração”. Omite, porém, críticas do Tribunal
de Contas da União, entre elas as dirigidas ao Programa de Reajuste Variável.
"Não se vislumbra qualquer razoabilidade para que
recursos destinados a custear as ações do Senac-RJ, em especial no
desenvolvimento de atividades de aprendizagem comercial, em prol da
coletividade, possam ser utilizados com tamanha liberalidade, em benefício de
uma pequena parcela dos servidores da entidade com escala ainda maior,
alcançando poucos dirigentes da instituição, com o pagamento de até 22,6
salários por ano", escreveu o ministro Aroldo Vedra, relator do processo.
O ministro do TCU acrescenta, em referência à mulher do empresário: “Torna a
entidade vulnerável, porque retira a necessária independência pessoal com que
devem atuar seus principais dirigentes”.
A gratificação foi justificada como uma forma de manter
talentos na entidade, mas, dos 221 beneficiados, 10% saíram do emprego após o
bônus: 12 demitidos sem justa causa e 11 por vontade própria.
Diniz evita atacar o TCU e volta-se contra a direção
nacional do Sesc e do Senac. Suas críticas surgiram quando o presidente do
Conselho Fiscal do Sesc, Carlos Galias, secretário-executivo do Ministério da
Previdência Social, encaminhou a Oliveira Santos, presidente do conselho
nacional, a proposta de intervenção no Sesc do Rio por mau uso das verbas da
entidade.
Por decisão judicial, Diniz voltou à presidência do
Sesc. Demitiu diversos servidores e intensificou a luta judicial contra
Oliveira Santos. Em janeiro deste ano, conseguiu afastá-lo do Sesc e do Senac
por causa de uma multa aplicada pelo TCU em 2003, fruto da compra de
equipamentos odontológicos em 2000. Cinco dias depois, a Justiça revogou a
medida.
Em abril, pediu ao Ministério Público fluminense a
investigação dos gastos na construção da sede do Sesc e Senac nacional,
inaugurados na Barrada Tijuca em 2004, ao custo de 200 milhões de reais. Alegou
que o prédio, com problemas, estaria esvaziado. Ali continuam a trabalhar, no
entanto, os mesmos funcionários de sempre.
Outro acontecimento pode influir nessa briga. Desde o
início de 2012, a
Polícia Federal de São Paulo tenta encontrar o responsável por encomendar a
quadrilha de Sérgio Prisco, desbaratada na Operação Durkheim, a quebra do
sigilo fiscal e de cadastros de linhas telefônicas de Oliveira Santos, do
vice-presidente da Confederação Nacional do Comércio, Gil Siuffo, do próprio
Gabas. Com os presos foram encontrados dados das contas bancárias da CNC, das
administrações nacionais do Sesc e do Senac e da Escola de Ensino Médio do
Senac. "Por enquanto, existem suposições, nada de concreto”, declara o
delegado Roberto Troncon Filho, superintendente da policia Federal em São
Paulo.
Segundo o advogado Alan Caetano Ramos, do escritório
Arthur Lavigne Advogados Associados, contratado pela CNC para acompanhar o
caso, a investigação levantou que a encomenda partiu de um empregado de uma
agência carioca ligada a campanhas eleitorais, “Não há dados concretos sobre a
relação ao imbróglio do Sesc, mas a polícia trabalha com esta hipótese”.
Por trás da briga há a disputa pela presidência da CNC
em 2014, sindicato patronal que administra um orçamento superior a 270 milhões
de reais e estende seus poderes ao Sesc e ao Senac. Aos 86 anos, Oliveira
Santos ainda não informou se pretende deixar o cargo após 33 anos. Pública é a
disposição de Diniz em disputá-lo. Para tanto, o empresário precisa do apoio
dos presidentes das federações do comércio de outros estados. Segundo fontes,
ele não conta com a simpatia dos pares.
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